Religiões, sentimentos públicos e as eleições 2018

Religião e política

A vinculação do discurso religioso na política passou a ser uma característica marcante das últimas eleições. Apesar da fragmentação desse segmento, avança uma agenda que é reconhecida por muitos como conectada ao neoliberalismo com fortes traços de um conservadorismo moral que promove a intolerância.

Senadores numa oração dentro do plenário
Teaser Image Caption
Oração no plenário do Senado Federal, comemorando o centenário da Igreja Assembleia de Deus do estado do Amazonas em 2017

Para as eleições de 2018, 44 % da população brasileira se diz pessimista. Ou seja, não acredita que haverá mudanças, mesmo que mudem os políticos no Executivo e Legislativo nacional. Não acreditam em melhorias, não confiam em uma recuperação da economia e do desenvolvimento humano. Os dados são da Pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Perspectivas para as Eleições 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE) em março deste ano por encomenda da Coordenação Nacional da Indústria (CNI). A desilusão pode ser explicada, em parte, porque 91 % dos deputados alvo da operação Lava Jato vão disputar as eleições. São 55 os deputados federais que gravitam como alvos de inquéritos e ações nesta operação. Deste total, 50 vão disputar as eleições: 42 se candidatando à reeleição, quatro ao Senado, dois a governos estaduais, um para o legislativo estadual e um candidatando-se à Presidência da República (Rodrigo Maia – DEM/RJ, com três inquéritos no STF em seu nome)[1].

Dentre os entrevistados para a pesquisa CNI-IBOPE, 20 % estavam otimistas, isto é, acreditavam em uma renovação no cenário político nacional. Esta renovação é um desejo expresso pela população nacional e vocalizado de diferentes modos e a partir de diferentes mecanismos desde, pelo menos, 2013. Os marcos analíticos são quase sempre aleatórios, uma decisão arbitrária em razão de alguma abordagem específica. Aqui não será diferente. Nos limites deste artigo não podemos recuperar o histórico de insatisfações e manifestações públicas organizadas em prol de mudanças no cenário político nacional e que tomaram o combate à corrupção como bandeira de luta. Sendo assim, as manifestações de 2013 emergem nesta análise como um marco recente nesta história e que põem em destaque inúmeros atores e problemáticas. A partir deste momento, foi notável o crescimento de uma condição de possibilidade para a emergência pública de discursos marcadamente intolerantes e reconhecidamente mais conservadores no espectro moral.

Um estudo do CNI mostra o pessimismo de muitos brasileiros em relação às eleições.

A religião influencia o voto

No mundo político/parlamentar, os atores sociais que ganharam mais destaque na mídia e em estudos acadêmicos como produtores e vocalizadores de narrativas discriminatórias, intolerantes e conservadoras foram àqueles organizados na Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional. Evidentemente não só eles produzem e publicizam estes posicionamentos, mas ganharam destaque nacionalmente a partir destes discursos e fizeram disso um fortalecedor de seu capital político perante suas bases. Certamente não foram estes políticos a inventar esta estratégia. A “crença em Deus” ou vinculação religiosa cristã corre como elemento importante na disputa política no Brasil desde tempos imemoriais. No entanto, ocupava o que poderíamos chamar de um subterrâneo nestas disputas tendo em vista uma “naturalização” da vinculação religiosa dos brasileiros ao catolicismo, incluso aqui também os candidatos, seja pela via da cultura, seja pela via da participação institucional. Com o crescimento da presença pública de evangélicos no país a partir, principalmente, dos anos 1990, a vinculação religiosa de políticos passou a ser tema de debates nas disputas. Deste modo, ainda conforme dados da pesquisa CNI-IBOPE, 79 % dos entrevistados dizem que é relevante o candidato à presidência acreditar em Deus e quase 30 % dizem que é importante para a decisão do voto que o candidato seja de sua mesma religião.

Sensíveis a esta transformação da identidade religiosa em capital a ser manipulado publicamente, passamos a identificar um processo de confessionalização da política (Machado 2006) em pleitos recentes, com destaque para a atuação de evangélicos[2]. Neste sentido, em 2014, por exemplo, tivemos a oportunidade de acompanhar a primeira candidatura confessional evangélica à Presidência da República na pessoa do Pastor Everaldo. Na publicação Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e eleições 2014 destacamos esta mudança de estratégia. O foco na ampliação da representação nos legislativos nacional e estaduais se mantinha, mas vimos ali - e a partir de então - um investimento político significativo para ganhar espaço no Executivo. Sobretudo, naquela eleição, no Executivo nacional. A carta do Bispo Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra, publicada em um jornal de grande circulação advertia que os evangélicos não eram mais manobráveis conforme o interesse de políticos que peregrinavam em suas igrejas atrás de votos. Eles teriam passado a ser players na disputa eleitoral. Ou seja, tinham um novo agenciamento no jogo político: a partir daquele momento lançariam seus próprios candidatos num esforço coordenado em direção a um projeto de poder e de nação cuja centralidade religiosa e da família emergia com veemência.

Atomização social

Do ponto de vista filosófico, estas pautas não apelam à coletividade, embora assim se apresentem. Ao contrário disso, são fortalecedoras de uma atomização social em torno de núcleos familiares e de uma religiosidade eleita como referencial para todos fragilizando inevitavelmente o tecido social, as outras institucionalidades, a força da coletividade diversa. Em contraposição à revelação dos preceitos em torno da “família” e da “igreja”, os interesses econômicos das dezenas de líderes articulados em torno de Rodovalho nas eleições 2014 e 2016 eram ocultados. Mas o tempo se encarregaria de mostrar, de revelar os compromissos de vários desses lideres religiosos no Congresso Nacional e articulados fora dele em torno do poder. Foi quando, no início de 2018, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), que já foi diretor de eventos do pastor Silas Malafaia, declarou em entrevista à Folha de São Paulo que vários políticos e líderes evangélicos estavam articulados em torno da ascensão à Presidência da República e da ampliação de representação no Senado e Câmara Federal. A ideia é aumentar de três para quinze o número de senadores evangélicos. Isso porque, argumentou Sóstenes, na Câmara conseguiam sucesso em suas pautas, mas no Senado enfrentavam dificuldades. Segundo o deputado: “Começamos a ver dificuldades para nossas pautas contra legalização das drogas, casamento gay etc. A gente conseguia vitórias importantes na Câmara e, mesmo com a troca do governo ideológico do PT pelo do [Michel] Temer, elas travavam no Senado”[3]. Essas são as pautas que são apresentadas pelos evangélicos no Congresso, são as que parecem lhes conectar às suas bases. Conforme apresentamos em publicação recente (Vital da Cunha et ali 2017), nas pautas das drogas, aborto e LGBT há uma relativa convergência entre o posicionamento dos políticos evangélicos na Câmara Federal e a opinião da maior parte dos evangélicos no Brasil. No entanto, outras pautas defendidas por parlamentares evangélicos no Congresso são ocultadas do grande público, como a defesa da ampliação do uso de armas no Brasil, a diminuição da maior idade penal, a defesa da pena de morte. A defesa da reforma trabalhista que precariza ainda mais a relação capital/trabalho foi defendida pelos evangélicos no Congresso Nacional[4], o que não surpreende quando consideramos as articulações de grandes líderes denominacionais e quando acessamos o perfil dos parlamentares evangélicos, vários deles empresários.

 

Encontro entre o presidente Michel Temer e Robson Rodovalho em Brasilia em 2016

No início deste ano, ocorreu mais uma iniciativa em torno da unificação eleitoral de evangélicos no Brasil. O senador Magno Malta (PR-ES) propôs uma articulação com o pastor Silas Malafaia  para “traçar metas com o pessoal da Universal e da Assembleia de Deus com vistas a indicar candidatos com chances reais de vitória”[5]. Além de Malta, novamente o bispo e ex-deputado federal Robson Rodovalho, presidente da Confederação de Conselhos de Pastores do Brasil (CONCEPAB) tem se articulado pela unidade do eleitorado evangélico e declarou que “vai harmonizar as igrejas em torno de candidatos, para evitar que haja muitos deles com representatividade, mas poucos votos. Aí ninguém entra”[6]. Uma das estratégias é contar com candidatos “não políticos”. Neste sentido, lembra Rodovalho, podem contar com grandes empresários tal como Flávio Rocha, CEO da Riachuelo e vice-presidente de relação com investidores do Grupo Guararapes, frequentador da igreja Sara Nossa Terra e que em um de seus eventos disse: “o Brasil precisa de um liberal de cabo a rabo”. Vale lembrar que embora “não seja político”, o que na representação popular que se fortalece desde 2013 significa não compor o círculo vicioso de corrupção, favorecimento próprio e uma gama de outros comportamentos negativos, o empresário foi acusado de manter funcionários trabalhando por jornadas de mais de quinze horas sem pagamento correspondente pelo tempo extra nas fábricas e, em outros casos, de pagar valor menor do que o salário mínimo para os empregados[7]. Especulações a parte, importa observar na articulação destes líderes evangélicos o desejo de suplantar as disputas internas ao segmento rumo à ampliação significativa de candidatos evangélicos com chances de vitória. Assim, Flávio Rocha é candidato pelo PRB tendo o pastor Marcos Pereira, da Igreja Universal do Reino de Deus, ex-Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços no governo Temer e acusado na operação Lava Jato, como principal articulador de sua campanha[8].  

Nas eleições de 2014 acompanhamos uma disputa que era ao mesmo tempo partidária e denominacional. Assim, víamos em combate a Assembleia de Deus, maior igreja pentecostal do Brasil com mais de doze milhões de adeptos, e a Igreja Universal do Reino de Deus. Em termos partidários esta disputa denominacional se expressava na competição PSC e PRB. A expectativa naquele pleito era de dobrarem as suas respectivas bancadas. O PSC diminuiu de tamanho na Câmara de uma legislatura para a outra enquanto o PRB mais que dobrou o número de deputados eleitos em 2014 em relação ao ano de 2010.

Reconfiguração das bancadas

Em contrapartida a estas articulações que conectam neoliberalismo com fortes traços de um conservadorismo moral interesseiro, intolerância e evangélicos, acompanhamos o surgimento de uma frente progressista evangélica que pretende ocupar espaço na política partidária. Os progressistas evangélicos se encontravam em franco crescimento e organização na sociedade disputando com conservadores e extremistas religiosos a representação do que é ser evangélico no Brasil. No entanto, em termos político-partidários não se observava recentemente uma ação coordenada com vistas a enfrentar seus irmãos de fé em prol de suas bandeiras de luta por uma sociedade mais justa, inclusiva, sustentável. Nestas eleições, Ariovaldo Ramos, líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e membro da Igreja Comunidade Cristã Reformada, pretende encorajar a formação de uma “bancada do bem”. Em suas palavras: “Queremos uma bancada do bem porque a do mal já estamos cansados”. Alerta, contudo, que não se tratará da imposição do voto, mas de geração de alternativas: “Não acreditamos no voto de cajado [onde] irmão vota em irmão”[9]. Não foram publicizados nomes ainda destes candidatos “evangélicos do bem”, mas o exercício de limpeza moral no contexto das eleições chama atenção.

 

Comemoração do aniversário da Igreja Universal do Reino de Deus no Congresso Nacional

Em meio à centralidade que as narrativas e atores religiosos ganharam no mundo político e midiático nacionais, cresceram a militância e a reflexão acadêmica no Brasil sobre laicidade e secularização[10]. Se, por um lado, compreendia-se que a laicidade nunca fora um princípio nuclear da República brasileira (Mariano 2011), por outro se afirmava que a laicidade aqui não poderia ser medida comparativamente a outros contextos republicanos, vide o caso francês, com a finalidade de assinalar que no Brasil haveria “menos” laicidade que em outros países. Para alguns pesquisadores, importante seria analisar a laicidade no Brasil “em seus próprios termos” reconhecendo sua base de formação que converge com a ação religiosa cristã. Isto é, seria forjada historicamente na interlocução com a Igreja Católica (Dullo 2015). Importante notar que, na arena pública, a defesa da laicidade emerge quase sempre como meio de “combater” os políticos religiosos que defendem pautas que obstaculizam o exercício do direito de grupos sociais específicos. Esta relação necessária entre ação religiosa e privação de direitos não se sustenta em termos históricos (Montero 2012; Giumbelli 2008) e nem atuais (Vital da Cunha et alli 2017). Diferentes organizações religiosas são importantes instrumentos de garantia e para o exercício democrático, cidadão e social. Se tomarmos esta como uma assertiva verdadeira, será necessário rever perguntas, repensar contextos e enfrentar antigas questões. Em qual medida a religião é de fato aquela a refrear avanços legais? Como isso é exercido, caso a resposta seja positiva? Não seria a religião uma cortina de fumaça que emerge ora como meio de fortalecimento do capital de alguns políticos, ora como elemento de fachada para encobrir interesses econômicos escusos e projetos de poder que, como tais, desconsideram a vida pública, a sociedade como um todo visando ao favorecimento de grupos, instituições e conexões internacionais?

A religião e a manipulação de sentimentos

Tomando como pressuposto que a religião se tornou elemento de manipulação de alguns, ou seja, um falso problema social a ser enfrentado, gostaria de finalizar sugerindo que a defesa da sociedade em sua diversidade, a defesa dos direitos humanos compreendidos como direitos não de minorias, mas de todos, que a confiança e o fortalecimento de variadas instituições e serviços públicos são fator de nutrição e saúde para o tecido social produzindo altas taxas de bem estar coletivo[11]. Estas são pautas que poderiam e deveriam ser defendidas universalmente. Não se restringem a religiões ou partidos. Deveria ser a base comum sobre a qual os projetos de governo se assentariam. A este sentimento partilhado por mim e tantos outros brasileiros chamo esperança. Estou entre os 20 % de otimistas que acreditam em viradas políticas e ontológicas. Nos pleitos o que impera é a manipulação de sentimentos. O domínio do plano de governo dos candidatos e a análise cuidadosa de suas trajetórias políticas são dimensões observadas por uma minoria. A maior parte da população, ilustrada ou não, é conduzida por impressões[12]. No limite, já nos diriam clássicos da sociologia americana como Goffman (1995), a vida social baseia-se em tentativas frequentes (umas com mais sucesso, outras menos) de manipular impressões. Assumindo este como um pressuposto quase inescapável, resta compreender a solidez ou não da representação e do sentimento que se busca produzir no outro – seja ele indivíduo ou coletividade. Como exercício político, é preciso investigar qual o gap entre o que está sendo apresentado na região moral de fachada, tomando os termos de Goffman novamente, ou de fundo[13].

Especulo que será vitorioso quem conseguir enfrentar o sentimento de atordoamento público apresentando confiança e segurança em um caminho moderado, que respeite a forte demanda identitária ao mesmo tempo em que abra também espaço para o acolhimento daqueles que se sentem perdidos diante de novas demandas e mesmo constrangidos pelos novos posicionamentos de grupos ditos vulneráveis ou minoritários. Evangélico empresário, evangélico do bem, de esquerda, centro ou direita, talvez estes rótulos sejam menos importantes no jogo político do que ocupar o imaginário como confiável, inclusivo, digno, forte. Em momentos frios da história, de grandes transformações, como diria Durkheim, mais ainda as pessoas ficam como sedentas por acolhimento, cuidado, confiança. O enfrentamento destas necessidades públicas como legítimas viabiliza verdadeira interação entre política e sociedade, entre os políticos e os cidadãos.

 

A Catedral de Brasília

Referências Bibliográficas

BARREIRA, Irlys Alencar Firmo. Ritual e Símbolo na Política. Cadernos Ceru/Série 2, nº 7, 1996.

BEZERRA. Ada Kesea Guedes. Mídia e Política uma análise da construção da imagem pública de lula nas eleições presidenciais de 2002. (Dissertação de Mestrado). UFCG, Campina Grande, 2006.

BURITY, Joanildo. “Religião e cidadania: alguns problemas de mudança sociocultural e de intervenção política”. In: Joanildo Burity e Péricles Andrade (orgs.). Religião e Cidadania. São Cristovão: Editora UFS; Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2011.

CHAIA, Vera. Eleições no Brasil: o “medo” como estratégia política. In: RUBIM, Antônio Albino Canelas, (org.) Eleições Presidenciais em 2002 no Brasil. Ensaios sobre mídia, cultura e política. São Paulo: Hacker Editores, 2004.

DULLO, Eduardo. “Política secular e intolerância religiosa na disputa eleitoral” In Religiões e controvérsias públicas: experiências, práticas sociais e discursos. Paula Montero (org.). São Paulo, SP: Editora Terceiro Nome: Campinas, SP: Editora Unicamp, 2015. pp. 27-48

GIUMBELLI, Emerson. “A Presença do Religioso no Espaço Público: modalidades no Brasil”. In: Religião e Sociedade, 28/2, 2008.

GOFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

MACHADO, Maria das Dores Campos. Política e Religião: A participação dos evangélicos nas eleições. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006.

MARIANO, Ricardo “Laicidade à brasileira: católicos, pentecostais e laicos em disputa na esfera pública”. In: Civitas, Porto Alegre, v. 11, n. 2, maio-ago, 2011.

MONTERO, Paula. “Religião, Pluralismo e Esfera Pública no Brasil”. In: Novos Estudos CEBRAP, n. 74. São Paulo, 2006.

___. “Controvérsias religiosas e esfera pública: repensando as religiões como discurso” In: Religião e Sociedade, 2(1): 167-183, 2012.

SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado espetáculo. Rio de Janeiro: Difel, 1978

TOCQUEVILLE, Alexis de. De la démocratie en Amérique. (première édition : 1840). Paris: Gallimard; Folio, 1961. P.394.

VITAL DA CUNHA, Christina. LOPES, Paulo Victor Leite. Religião e política: uma análise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro: ISER, HBS, 2012.

VITAL DA CUNHA, Christina. LOPES, Paulo Victor Leite. LUI, Janayna. Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e eleições 2014. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, Instituto de Estudos da Religião, 2017.

 

[1] Dados de Neila Alvarenga e Paulo Oliveira veiculados no jornal Estado de São Paulo, em 14 de maio de 2018.

[2] Também políticos católicos começam a operar nesta modalidade de publicização da fé ou vinculação religiosa como meio de organização e fortalecimento interno à Câmara e junto às suas bases. Vide a formação da Frente Parlamentar Católica em 2015 (Vital da Cunha et alli 2017).  Devemos lembrar também que isso ocorre no bojo de uma afirmação identitária no espaço público em termos de gênero, raça, etnia.

[4] Após a aprovação da Reforma Trabalhista, Lei 13.467/17, o Brasil passou a figurar na lista “suja” de violação de direitos dos trabalhadores da Organização Internacional do Trabalho - OIT, um órgão da Organização das Nações Unidas - ONU.

[8] Vale lembrar que tais estratégias de lideres religiosos são desconhecidas da maior parte do público religioso ganhando visibilidade,  principalmente, a partir da mídia de massa e da pesquisa acadêmica.

[10] Em levantamento feito em 2011, conferimos a produção acadêmica sobre laicidade no Brasil no século passado dividindo em dois grandes períodos. Pudemos observar que o crescimento vertiginoso deste debate se estabelece a partir de meados da década de 1990 – resultado dos questionamentos sociais levantados, em boa parte, pelo crescimento estatístico de evangélicos e pela presença ostensiva na mídia e na política, além da narrativa flagrantemente intolerante de algumas denominações chamadas neopentecostais. Para saber mais ver Vital da Cunha e Lopes 2012.

[11] Ao observarmos os elementos comuns aos países que aparecem melhor colocados no ranking da ONU sobre os países nos quais as pessoas se dizem mais felizes (Relatório da Felicidade, uma iniciativa da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, realizada desde 2012), podemos verificar a confiança interpessoal, nas instituições privadas e públicas como elemento crucial de uma experiência coletiva de bem estar.  

[12] Esta é uma questão fundamental na política tratada por clássicos como Toqueville ([1840] 1961) a contemporâneos Barreira (1996), Chaia (2002), Schwartzenberg (1978), Bezerra (2006), entre outros.  

[13] Segundo Goffman (1995), as regiões morais de “fundo” e “fachada” têm condicionantes e correspondem a situações sociais que demandam diferentes posicionamentos/comportamentos dos atores. Na região de fachada experimenta-se um grau maior de constrangimento público, de exposição, o que demanda atuar correspondendo a um sem número de expectativas sociais. Na região moral de fundo os sujeitos continuam atuando uns diante dos outros, contudo, de um modo menos controlado publicamente, o que possibilita a sensação de se “ser como se é” em termos individuais ou mesmo de uma coletividade como de gênero, esta, citada pelo autor via a obra de Simone de Beauvoir.